AS NOVE
SINFONIAS DE BEETHOVEN
Correlacionado com os Nove
Mistérios Espirituais
Corinne Heline
CAPÍTULO VI
SEXTA SINFONIA
- FÁ
MAIOR - OPUS 68
Existe música no suspiro de um junco,
Existe música no alvoroçar de um riacho,
Existe música em todas as coisas, se o homem tiver ouvidos.
A Terra é somente o eco das esferas.
Lord Byron
A Sexta Sinfonia é uma das melhores peças musicais em toda classe de
música absoluta. Beethoven nem uma vez transgrediu os grandes princípios da
forma e do equilíbrio nesta sinfonia. O movimento de abertura é um verdadeiro
retrato campestre cheio de tônicas e dominantes da alegria do verão. O aroma do
riacho com seu sonolento e repetido desenho na corrente das cordas é o refrão
sempre soando na Natureza. - Romaine Rolland em BEETHOVEN
Beethoven foi um grande poeta que segurou a natureza com uma das mãos e
o homem com a outra. - Autor Desconhecido
A Sexta Sinfonia foi terminada em 1808 e
primeiramente apresentada em Viena no mesmo ano.
Há um triângulo cósmico composto por Deus, o
Homem e a Natureza. O homem é o pequeno deus no Grande Homem. Quanto mais
próximo o homem entra em sintonia com Deus, mais profundamente ele penetra nos
mistérios da natureza.
É bastante significativo que, para a Sexta ou
Sinfonia da Natureza, Beethoven tenha escolhido o tom de Fá Maior. A Sra.
Blavatsky declara na “Doutrina Secreta” que Fá é a nota-chave musical da Terra
e que verde é a sua cor. Estudantes de musicoterapia estão cientes do fato de
que o uso de composições musicais nesta tonalidade produzirão efeitos benéficos
sobre várias formas de tensão nervosa e sobre nítidos e prolongados efeitos da
insônia. Qualquer pessoa que tenha ficado cansada ou debilitada por excesso de
tensão e que tenha passado apenas uma só noite numa floresta de pinheiros,
respirando sua suavizante fragrância, não duvida da força curadora da natureza
nem dos efeitos rejuvenecedores da cor verde, pois, na verdade, esta é a cor da
vida.
Em seu livro “Essaes de Technique et
d’Esthetique Musicales”, M. W’lie Poiree observa que a Sinfonia Pastoral de
Beethoven que está escrita em Fá Maior tem a “cor-auditiva” correspondente à
cor verde. Compreendendo como ele compreendia a profunda importância espiritual
das diferentes tonalidades, Beethoven escolheu com o maior cuidado a nota-chave
de cada uma das nove sinfonias.
Também deve-se notar o fato de que a nota-chave
da Sexta Sinfonia está correlacionada com Virgo, o sexto signo do Zodíaco.
Virgo é um signo feminino e pertence à triplicidade da Terra. Está, portanto,
afinado com a Mãe Natureza. Seu símbolo é a Virgem segurando um feixe de trigo.
Entre as notas-chaves espirituais de Virgo, está o Serviço por meio do Som e da
Beleza. Estes atributos também caracterizaram os motivos musicais da bela Sexta
de Beethoven ou, como é popularmente chamada, a Sinfonia Pastoral.
Nesta sinfonia, que é verdadeiramente “um Hino
sublime à Natureza”, Beethoven procurou transcrever algo das harmonias
existentes nas operações do triângulo cósmico de Deus, Natureza e Homem. Daí,
ela exprimir muito mais que uma viagem através dos bosques ou uma caminhada
entre cenas silvestres. Na repentina tempestade de verão, tão graficamente
expressa no quarto movimento, Beethoven está descrevendo a batalha pela supremacia entre os espíritos
da natureza que sempre ocorre numa tempestade. O trovão é a voz do Ar, o
relâmpago, do Fogo, e a chuva, da Água, sendo a tempestade a sua luta pelo
domínio sobre a Terra. Esta é uma magnífica visão e um som magnífico para
aqueles que têm olhos de ver e ouvidos de ouvir. A linda Canção no Finale é uma
transcrição direta para a percepção humana da música daqueles Seres Celestiais
que guiam e dirigem a vida e as atividades de toda a natureza. Como Beethoven
mesmo declarou, “Nos campos, parece que eu ouço cada árvore repetindo ‘Sagrado,
Sagrado, Sagrado’”.
Do segundo movimento, o Andante, chamado pelo
compositor de “Uma Cena perto de um Riacho”, Vincent d´Indy diz: “É a mais admirável
expressão da natureza genuína em existência”, acrescentando que “só há algumas
poucas passagens em Siegfried e em Parsifal de Wagner que podem ser comparadas
com ela”. A propósito da comparação aqui feita, pode ser lembrado que Wagner,
em seu trabalho, procurou combinar em seus dramas musicais o que Beethoven
procurou expressar em suas sinfonias, e Shakespeare em seus dramas. Pode ser
que Wagner, em suas passagens sobre a natureza, tenha se inspirado na Sinfonia
Pastoral de Beethoven.
Ainda citando Vincent d´Indy em seu comentário
sobre o segundo movimento: “Enquanto o fluxo do riacho proporciona base para
todo o segundo movimento, melodias adoráveis brotam expressivamente e o tema
feminino do allegro inicial emerge de novo sozinho, como se estivesse inquieto
com a falta de seu companheiro. Cada seção do movimento é completada pela
entrada de um tema de algumas notas, puras como uma prece. É o artista que
fala, que reza, que ama e que se delicia em coroar as partes de seu trabalho
com um tipo de aleluia. Este tema expressivo termina as exposições sobre os
passos do desenvolvimento, no meio dos quais as tonalidades obscuras provocam
uma sombra por cima da terra. Então, seguindo os episódios leves do canto dos
pássaros, o tema e repetido três vezes, para concluir com uma afirmação
comovente”.
A mensagem desta sinfonia, como Beethoven
disse, é “Uma aproximação ao conhecimento de Deus através da Natureza”.
Um escritor definiu admiravelmente a fé de
Beethoven que era cósmica e não cega, dizendo: “A Natureza era a Divindade para
Beethoven; dela, ele tinha aprendido a aceitar todos os fenômenos como
reflexões da mente de Deus. Ele se sentia um ser escolhido de revelação
sobrenatural, um herói, um salvador que tinha sofrido e, elevando-se, tinha
sentido a vida divina dentro dele... À doutrina da Natureza em Deus e Deus na
Natureza, de Deus iminente no universo, ele acrescentou uma mística compreensão
de Deus como habitando em um simples indivíduo artístico e criativo”.
Há uma grande sinfonia soando para sempre
através da natureza, uma rara sinfonia de harmonia e beleza que é inaudível
para os ouvidos humanos e invisível para os olhos humanos até que se tenha
elevado a consciência ao ponto onde ela possa se comunicar com os poderes que
funcionam no lado interno da vida. O som do vento nas árvores, o estrondo da
tempestade, o tamborilar da chuva, o melancólico chamado do cuco e o terno som
da canção do rouxinol que são tão graficamente transcritos nesta sinfonia, não
são mais do que um aspecto da beleza e da
harmonia da natureza. Em sons musicais refinados e etéreos, o compositor
transmite a música rarefeita do brotar da tenra grama, o desdobrar das pétalas
das flores, o movimento das novas forças vitais nas folhas que brotam, no
movimento rítmico dos espíritos do ar e no canto alegre de seres
angelicais - todas estas coisas delicadas e intangíveis
que pertencem ao lado oculto da natureza, Beethoven expressou no segundo e
terceiro movimentos com tal delicadeza e beleza que suas maiores interpretações
provavelmente não conseguiram descrever.
Beethoven era um filósofo musical profundo que
possuiu não só a faculdade de perceber o lado vital da natureza, mas também
teve o incomparável dom de transcrever algo da linguagem espiritual para que
todos a ouvissem. Todos, no entanto, não desenvolveram a sensibilidade para
perceber os tons superiores espirituais que ele foi capaz de colocar dentro de
suas composições divinamente inspiradas. Mas eles estão lá esperando
reconhecimento, enquanto a humanidade se eleva suficientemente em consciência
para acompanhar o compositor aos planos dos quais ele retirou sua sublime
inspiração. Nesse meio tempo, aqueles que não são ainda capazes de compartilhar
completamente em tudo o que o compositor experimentou na criação de seus
trabalhos imortais são, no entanto, beneficiários do que eles realmente ouvem
num maior sentido vital do que geralmente é reconhecido.
A música origina-se no mundo celeste e, se o
homem está ciente do fato ou não, ela serve para preservar nele, embora de
maneira muito tênue, alguma recordação das esferas divinas das quais ele veio e
para as quais ele está destinado a voltar. Torna-se um fator importante
prevenir o homem de cair no esquecimento de seu verdadeiro lar.
E assim, ouvindo a Sinfonia Pastoral de
Beethoven, o espírito do homem é realmente colocado em contato com mais do que
impressões de natureza externa qualquer que possa ser o grau de sua percepção
consciente do que é então conectado. Lá está; ela colide com seus veículos mais
sutis e deixa uma impressão que é refinadora, sensibilizadora, construtiva e
redentora.
Portanto, não é somente música da natureza,
como este termo é geralmente compreendido, que Beethoven deu ao mundo em sua
Pastoral. Não é uma tentativa de descrever programaticamente cenas físicas e
efeitos atmosféricos. Para aqueles que podem perceber as nuances espirituais
desta criação sinfônica, melodias alegres de pássaros transportam comunicações
angélicas, águas correntes carregam uma paz interior, os campos abertos
expandem os horizontes, enquanto florestas são transformadas em grandes
catedrais e montanhas em elevadas cidadelas de Deus.
SEXTO
MISTÉRIO
A nota-chave espiritual da Sexta Sinfonia é
Unidade. Seis é um número que expressa luz, amor e beleza. Estes são os
...moods... musicais prevalecentes da Sexta Sinfonia.
A Sexta Sinfonia está relacionada com a sexta
camada da Terra. É o Estrato Ígneo. Nesta conexão, não temos que considerar o
fogo no sentido literal, pois esta sexta camada é luminosa. O ocultista entende
a diferença entre Fogo e Chama. Fogo é uma força espiritual e Chama é o aspecto
material daquela força. Moisés esteve diante da sarça ardente que não era
consumida, o que significa que ele esteve na presença do ser espiritual da Luz
que queimava, mas não se consumia.
Esta sexta camada da Terra reflete as forças
espirituais daquele plano elevado que é conhecido metafisicamente como o Mundo
da Consciência Crística. É o plano no qual todo o sentido de separatividade foi
transcendido e a verdadeira universalidade de toda a vida é realizada. Aqui, a
unidade completa prevalece. Se, em obediência à admoestação de São João, nós
andamos na luz como Ele está na luz, teremos fraternidade entre todos. Este é o
efeito da música da Sexta Sinfonia que podemos supor que foi escrita sob a
inspiração da sublime visão da inclusiva e harmoniosa fraternidade. Existente
neste plano espiritual elevado.
Beethoven estava sempre nutrindo em seu coração
o ideal da fraternidade humana. Era profundo e intenso; isso tocava o incomum e
o cósmico. Na Sexta Sinfonia, estão projetadas estas qualidades com relação à
Natureza, a exteriorização de Deus no qual o homem vive, se move e tem seu ser.
É sobre este mesmo ideal de fraternidade que ele leva o ouvinte nas asas do
êxtase para os altos planos da glória no Finale da sua Nona poderosa. É só quando este estado
de consciência está desenvolvido que as glórias internas da Natureza podem ser
reveladas e o sublime trabalho do Sexto Mistério pode ser empreendido com
sucesso.
Como foi dito anteriormente, depois da quinta
Iniciação, o trabalho se torna tão elevado que pouco pode ser dito sobre ele.
Para interpretar algo sobre o Sexto Mistério, Beethoven invocou o espírito da
Natureza. Ao estudar a natureza com reverência e devoção cada vez mais
crescentes, mais seus sublimes mistérios são revelados ao homem, e mais próximo
ele se afina com Deus. Um sábio mestre advertiu os aspirantes que procuram
entrar nos profundos mistérios da vida dizendo que eles “estudassem a natureza
, pois ela contém a marca da divindade”.
Beethoven considerava esta admoestação. É como
ele expressou sua fé na sabedoria a ser aprendida, um texto que ele copiou de forma
a tê-lo sempre com ele e também diante dele. Assim: “O ser pode corretamente
denominar a Natureza de escola do coração; ela nos mostra claramente nossos
deveres para com Deus e nosso vizinho. Portanto, eu desejo me tornar um
discípulo desta escola e oferecer a Ele o meu coração. Desejoso de instrução,
eu tentaria obter aquela sabedoria que nenhuma desilusão pode rebater; eu
ganharia um conhecimento de Deus e através este conhecimento, eu obteria um
antegozo da felicidade celestial”.
O Sexto Mistério está relacionado com a
Iniciação do Fogo. O segredo da vida está conectado com o fogo e é neste Sexto
Mistério que a pessoa chega diante desta poderosa verdade. Aqui, ela aprende a
distinguir a chama do fogo. A chama é reconhecida pelos cinco
sentidos físicos, enquanto o espírito do fogo é percebido só através das faculdades
espirituais. Aquele que conhece os segredos da Iniciação do Fogo pode passar
sem se queimar através da chama. Vários exemplos disto estão registrados no
mais profundo dos livros ocultos, a Bíblia. Tal é a trasladação de Elias para o
céu numa carruagem de fogo, a passagem dos três homens sagrados através do fogo
como está escrito no Livro de Daniel e as línguas de fogo que estão colocadas
nas cabeças dos Discípulos em Pentecostes. Estas são todas descrições dos
vários estágios ou aspectos da Iniciação pelo Fogo, e todas relatam em certo
grau o Sexto Mistério.
Os ciclos de encarnação através dos quais o
espírito individualizado tem que passar é o processo pelo qual as
potencialidades divinas são despertadas e desenvolvidas em chama vivente. Esta
é a luz a que São João se referiu quando disse: “Se nós andamos na luz como Ele
está na luz, teremos fraternidade uns com os outros” . É só quando o homem
desperta esta luz em si mesmo que ele pode conhecer o verdadeiro significado da
fraternidade. A humanidade não pode
oferecer ao Criador maior presente do que aquele de manifestar uma fraternidade
universal e um mundo unido.
Sou tão visual que senti uma mega inveja das pessoas mais auditivas. Este texto é simplesmente uma poesia. Eu ainda não consigo captar pelo ouvido esta grandeza, mas só de ler os escrito percebi que tanto o autor do texto, quanto Beethoven possuem uma belíssima audição da natureza e uma conexão com o intangível que me deixaram em estado de êxtase só de imaginar o que estes sentem ao escutarem as melodiosas sinfonias.
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